Esperança

--2011/04/12

Próximo final de semana é Páscoa, data comemorada com muita ênfase por alguns grupos religiosos, no entanto, algumas ideologias são mais fortes em nossa sociedade e acabam por desvirtuar o verdadeiro sentido que a Páscoa nos oferece.

Individualismo, consumismo, hedonismo, competição, são alguns dos valores que marcam nossa vida e que motivam atitudes racistas, preconceituosas, destruidoras e violentas, que certamente não se coadunam com o sentido da Páscoa. Presenciamos situações como o ocorrido na escola de Realengo no Rio de Janeiro, ou o tsunami no Japão, outras vezes ainda, situações de fome e desemprego, enfim, a fatalidade da vida está ao nosso lado. Cabe então a pergunta: Qual o sentido da Páscoa? Será que a mesma se traduz apenas no comer peixe, bacalhau, ovos de chocolate ou cerimônias religiosas? Não será justamente essa banalidade a causa da inversão de valores frente à vida humana e ao planeta? Talvez comemorar a Páscoa em nossos dias, deveria ser principalmente recuperar os laços de esperança que precisamos ter entre nós.

A Páscoa e a Filosofia

Mas, o que entendemos por esperança? Como crer na esperança diante de situações desesperadoras? Poderia fazer você responder tais questões usando dos ensinamentos de Jesus, Moisés, Kardec, etc., no entanto, quero fazê-lo "filosofar" nesta Páscoa, por isso, tomo o pensamento de Gabriel Marcel, filósofo francês do século XX, que tratou do tema da esperança como sendo a luz que penetra nas trevas de nossa existência, preservando-nos do desespero. Para Marcel, a esperança funda-se no invisível, cuja plenitude somente acontece na superação da tentação de isolamento que consiste em exorcizar o desespero com a vida em comum, isto é, com os amigos, família, comunidade, etc. Outro filósofo que merece nossa reflexão é o alemão Ernst Bloch, também do século XX. Ele percebe a esperança como uma emoção positiva porque leva alguém de um ponto zero a um ponto infinito. Ela motiva a própria existência humana a sair do que é agora para algo que ainda não é. Ela é responsável, assim, pela transformação de um mundo solidário e humano com mais paz e menos opressão social.

Uma Páscoa diferente

Essas reflexões se vinculam diretamente com o sentido da Páscoa, e por isso, quero sugerir a você uma páscoa diferente. Aproveite os feriados e leia o clássico "Os irmãos Karamazov", obra do escritor russo Fiódor Dostoievski, seu desfecho é como um apelo à esperança universal. Nesse momento Aliócha, o filho religioso dos Karamazov, "encontrará irmãos num sentido mais amplo, já não da família, já não da carne e do sangue, mas da humanidade toda". Dostoievski oferece-nos um final de esperança... Pense nisso, leia o livro e se quiser escreva para mim! Feliz Páscoa!